João Carlos M. Madail Economista, professor, pesquisador e diretor da ACP jocar2148@gmail.com Há certo consenso histórico de que o Brasil necessita de reformas para poder crescer, gerar empregos e renda para os brasileiros e com isso reduzir a distância entre os ricos em relação aos pobres, já que seis brasileiros têm uma riqueza equivalente ao patrimônio dos cem milhões mais pobres do País. Melhor dizendo, os 5% mais ricos detêm a mesma fatia de renda dos demais 95% que ganham um salário mínimo por mês. Por isso, fala-se em reformas: tributária, trabalhista, previdenciária, política, econômica, orçamentária e tantas outras como reformas na educação, agrária, administrativa, constitucional, eleitoral, bancária e a tributária ou fiscal em estudo no Congresso. São inúmeras reformas que, se colocadas em prática, certamente mudarão o País. O Brasil é o país da ineficiência, da baixa produtividade, com empresas inábeis, sobrevivendo à custa de desonerações, e outras sucumbindo à competição desleal estimulada pelo próprio Estado. O nosso sistema de impostos, um dos piores do mundo, está entre os obstáculos à atividade empreendedora e à atração de investimentos. Ao invés de se discutir questões técnicas que estão travando o desenvolvimento, se discute política partidária que divide o País em duas correntes, as que apoiam a atual situação e as que discordam de quem está no poder. A busca por um País mais moderno e justo passa necessariamente pela união dos brasileiros no enfrentamento dessas questões. Sabe-se de antemão que a democracia é lenta, exigente, difícil de atingir consenso quando inúmeros interesses partidários e pessoais estão em jogo. Não se tem outra saída senão "reformar os brasileiros", entendido aqui como promoção da educação para a cidadania, capaz de despertar as consciências em massa, no sentido da compreensão da dimensão das suas escolhas, sabendo-se que toda ação individual produz um impacto na vida de outras pessoas e na sociedade de modo geral. Entretanto, para se atingir esse objetivo, o povo precisa estar educado, preparado, consciente sobre as escolhas dos seus representantes que, por sua vez, também devem estar qualificados para desenvolver as tarefas que lhes foram confiadas. Mas estamos longe de atingir este objetivo. O Brasil ocupa o 53º lugar em educação, entre 65 países avaliados pelo Programme for International Student Assessent (Pisa), entidade internacional ligada à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que realiza avaliação de estudantes no mundo a cada três anos. Entende-se, portanto, que reformar é necessário e a principal delas é a "reforma dos brasileiros" por meio da educação. Mesmo com os atuais programas sociais que incentivam a matrícula de crianças entre seis e12 anos, mais de 800 mil crianças ainda estão fora da escola, segundo o IBGE. O analfabetismo funcional, situação em que a pessoa reconhece letras e números, mas não consegue compreender textos simples, nem realizar operações matemáticas, abrange um enorme contingente de pessoas entre 15 e 64, numa situação longe de ser resolvida. Pessoas educadas, que tiveram a sorte ou o privilégio de passar pelos bancos escolares, têm melhores chances de escolher os seus candidatos que reformarão o País. Por outro lado muitos brasileiros que não tiveram a mesma sorte de estudar têm dificuldades de entender o processo político, conseguem abominar os políticos corruptos, mas frequentemente os reelegem a partir de promessas demagógicas que nunca serão realizadas. O exemplo prático de como alfabetizar o País veio do então prefeito de Porto Alegre e governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, junto com o antropólogo Darcy Ribeiro, criadores dos Cieps, a melhor forma de educação pública até hoje implantada no País.
Fonte: https://diariopopular.com.br/opiniao/reformar_o_brasil_ou_reformar_os_brasileiros___.503899