Cadeias agroalimentares curtas

Cadeias agroalimentares curtas

Cadeias agroalimentares curtas não são apenas uma questão de agricultura, também envolve a economia e comportamento dos consumidores. Em meio à demanda por uma alimentação mais saudável, os orgânicos tem crescido ano a ano, confira a análise do economista João Carlos M. Madail sobre o tema.

18/05/2022

Foto: Tim Mossholder

Por João Carlos M. Madail — Conselheiro do CORECON RS e Diretor da ACP Pelotas

Cadeias agroalimentares curtas estão diretamente relacionadas aos mercados da agricultura familiar. A palavra “curta” significa encurtar distância, aproximar o produtor do consumidor, visando uma conexão com maior interatividade, numa relação de confiança entre ambas as partes. A prática das feiras livres, segundo alguns especialistas, existe desde os anos 500 a.C. nos países do Oriente Médio, relacionadas às festividades religiosas.

Atualmente é comum encontrar feiras livres das mais variadas especialidades, com predominância na oferta de produtos agroalimentares comercializados, em geral, pelos próprios agricultores que os produzem, numa maneira de encontro entre quem produz o alimento com quem está interessado em consumi-lo.

Esta dinâmica favorece os dois lados.

O produtor tem a oportunidade de conhecer as exigências do consumidor em relação ao tipo de produto desejado, a forma, a apresentação, a embalagem e até o processo de produção especialmente aos tipos de insumos utilizados. Para os consumidores a segurança de conhecer a qualidade dos alimentos que está consumindo e, de certa forma, a fidelização a determinado produtor adquirida ao longo dos encontros, onde o produtor, ao seu jeito, monitora o seu cliente e até antecipa ofertas de produtos do seu interesse.

Entender o comportamento dos consumidores é fundamental para o produtor para inteirar-se do que eles desejam e assim oferecer exatamente o que desejam, identificando suas necessidades e satisfazê-las com soluções que estejam de acordo com essa mudança de hábitos. Nesse sentido, tem crescido a prática das feiras livres de produtos orgânicos em Pelotas e região em resposta à mudança do padrão de consumo agroalimentar de grande parte dos consumidores esclarecidos, preocupados com os malefícios que o consumo de produtos contaminados com agroquímicos pode causar a saúde.

Um dos aspectos centrais e decisivos na organização das cadeias curtas refere-se à redefinição e mesmo à construção das relações com o mercado. Não há cadeia curta sem que ocorra estreitamento das distâncias e dos contatos entre produtores e consumidores e este aspecto é essencial para o fortalecimento das mesmas.

Experiências exitosas, nesse sentido, têm sido realizadas em Pelotas. A “rua do pêssego”, por exemplo, foi o primeiro evento de aproximação entre os produtores da fruta com os consumidores, idealizada pelo pesquisador da Embrapa Nelson Finardi, com a minha colaboração, ocasião em que os consumidores estiveram diante de várias cultivares da fruta destinadas ao consumo in natura ou ao processamento, buscando e emitindo opiniões sobre aparência, formato, sabor, além de informações sobre o processo de produção.

Não há dúvida sobre a importância das feiras de produtos agroalimentares nos aspectos social, mercadológico e ambiental, pois muitos consumidores acreditam que os aspectos relacionados à sustentabilidade são muito importantes e os agricultores familiares estão atentos à questão.

Os consumidores, por sua vez agregam uma experiência social importante, pois passam a conhecer os produtores, seus modos de vida e maneiras de condução da produção, interagem com outros consumidores na troca de informações sobre produtos e maneiras de consumo e processamento caseiro. Já os produtores, além de notável popularidade devido à atenção dos consumidores, têm aproveitado a oportunidade de melhorar a qualidade dos seus produtos, comercializá-los diretamente e até contribuir para a mudança de hábitos alimentares que, certamente, têm envolvido as famílias numa espécie de reeducação alimentar.

Enfim, os resultados têm mostrado que as feiras agroalimentares curtas geram trabalho e renda no campo, dinamizam a economia local e proporcionam a soberania e segurança alimentar para a população urbana, além de serem um espaço privilegiado de organização e participação.




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Gustavo Ferreira Felisberto





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