Por João Carlos M. Madail — Conselheiro do CORECON RS e Diretor da ACP Pelotas
Todo brasileiro que teve acesso a escola, certamente ouviu dos seus
professores, que o Brasil é um país rico, que possui quase todos os recursos
naturais necessários para o seu desenvolvimento em benefício da sua
população.
No decorrer do aprofundamento dos conhecimentos, se percebe
que não bastam as riquezas que o país possui para melhorar a vida das
pessoas. Por conta do processo colonizador e da escravidão, o território
brasileiro sempre foi um país onde havia muitas pessoas pobres.
Com o fim da
escravidão e o contínuo êxodo rural, multidões migraram para as cidades que
não estavam preparadas para abrigar muita gente que buscava oportunidades
de moradia e trabalho que não existiam para todos, iniciando, assim, um ciclo
de pobreza. O processo de migração ou deslocamento de pessoas sempre
existiu e continua ocorrendo dentro e fora do país de origem.
Esses
movimentos trazem diversas conseqüências para o espaço geográfico,
modificando assim, sua configuração. Um exemplo brasileiro tem sido a
ocupação dos morros cariocas, que não possuem infra-estrutura para suportar
a grande quantidade de pessoas empobrecidas que buscam um espaço para
montar precárias moradias.
De acordo com o Banco Mundial, é considerada
pobre aquela pessoa que vive com menos de US$ 1,90 por dia, algo que atinge
aproximadamente 760 milhões de indivíduos em todo o planeta, cerca de,
10,5% da população mundial. O Brasil pode não ser considerado um país
pobre, mas é um país injusto e desigual que possui um grande contingente de
pessoas pobres, sendo que 39,9 milhões vivem na extrema pobreza.
A
realidade da pobreza vivida pelos mais vulneráveis em pleno século XXI é
alarmante. A falta de alimentos e moradia digna se tornou realidade para
milhares de famílias brasileiras. A principal determinante para os elevados
níveis de pobreza que afligem a sociedade brasileira é a desigualdade da
renda e das oportunidades de inclusão econômica e social.
Os governantes
brasileiros, em geral, têm nos discursos a solução para erradicar a pobreza no
país, mas logo que são eleitos se esquecem de investir fortemente na
educação, na redução da disparidade de trabalho e renda entre as pessoas,
formalizar o grande número de trabalhadores informais e atacar o preconceito
existente na sociedade que afasta pessoas pela cor ou condição social.
Quando se analise números, constata-se que o Brasil ocupa hoje a nona
posição entre as maiores economias do mundo com um PIB de US$ 1,8 trilhão.
A questão inquietante é entender as razões de o Brasil ocupar a posição de
uma das maiores economias do mundo e abrigar grande parte da sua
população em estado de pobreza.
Certamente as razões são mais política do
que técnica. Inexistem políticas de longo prazo voltadas para a educação
massiva da população ou da geração de empregos que reduzam o número de
desempregados que já atingiram 14,7 milhões em 2021. Os poucos empregos
gerados são, em geral, de baixa produtividade, ao passo que práticas de
integração entre universidades federais públicas e empresas são raras.
As
razões técnicas apontam que empresas brasileiras são pouco competitivas, em
vez de falirem, são mantidas por várias formas de intervenção, com medidas
protecionistas. Há urgente necessidade de o país investir em infra-estrutura
que representa, hoje, apenas 2,2% do PIB, menos que a metade da média de
países emergentes.
No relatório anual sobre o Brasil, a Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE projeta uma nova década
perdida na economia, mas sugere que uma redução da pobreza extrema, como
a registrada no país que se arrasta nos tempos é um objetivo tangível no curto
prazo.
A Organização previu o crescimento do PIB brasileiro em 2021, devendo a economia brasileira retornar ao patamar pré-pandemia somente a
partir do terceiro trimestre de 2022. Entretanto, crescimento econômico
significa apenas crescimento de números, que devem ser acompanhados de
políticas sociais de inserção da camada pobre na participação direta do “bolo”,
do contrario, a concentração de renda aumentará ainda mais.