Consequências da guerra para o agronegócio brasileiro

Consequências da guerra para o agronegócio brasileiro

João Carlos M. Madail, economista, explica os desdobramentos do conflito russo-ucraniano para o mercado agro. O Brasil, altamente dependente da importação de fertilizantes, precisa lidar com a alta nos preços e oferta reduzida.

13/05/2022

Foto: Kateryna Ivanova

Por João Carlos M. Madail — Conselheiro do CORECON RS e Diretor da ACP Pelotas

A importância do agronegócio tem se fortalecido a cada dia no Brasil, pela suas capacidades de expansão da produção e da produtividade, além da geração de oportunidades de empregos e renda para várias regiões. Ao longo dos anos este setor da economia tem sido fundamental na formação de diversas cadeias produtivas ou atividades agrícolas espalhadas por quase todo o território nacional.

Quando se fala em agronegócio, entende-se como a soma total das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações na unidade de produção, do armazenamento, do processamento e da distribuição dos produtos agrícolas.

A atividade agrícola está sujeita, não só às forças da natureza, como a recente estiagem que assolou algumas das regiões produtoras, mas as implicações da pandemia e da guerra entre a Rússia e Ucrânia, dois países importantes na produção agrícola e no fornecimento de nutrientes como, potássio e fósforo, ingredientes essenciais para os fertilizantes utilizados no crescimento das plantações.

Outro fator preocupante para o agronegócio é o choque de preços do petróleo, insumo utilizado em grande escala do caminhão ao trator, em todo o processo produtivo e distributivo, que não para de subir no mercado internacional. Se por um lado o preço das commodities, em função da guerra, deverá aumentar no mercado mundial, o custo de produção acompanhará este aumento, reduzindo a margem do produtor.

Em 2020, a relação custo-produção praticado pelos produtores sinalizavam a necessidade de produzir 20 sacas de milho para pagar uma tonelada de ureia. Em 2021 foram necessárias 50 sacas para a mesma quantidade do insumo, com a clara tendência de suba, em função, também, da valorização cambial do dólar em relação ao real.

Isso significa que antes mesmo da guerra na Ucrânia, o preço dos fertilizantes já estava em alta, explicados pelo aumento da cotação do gás natural, principal insumo na produção de fertilizantes nitrogenados.

O Brasil importa 85% dos fertilizantes que utiliza na agricultura e a Rússia responde por 23% dessas importações, daí a preocupação do governo, apoiado pelo setor produtivo, em se manter neutro na posição política sobre a guerra.

Segundo a Yara Internacional, empresa com sede na Noruega que opera em mais de 60 países e compra quantidades consideráveis de matérias primas da Rússia, metade da população mundial obtém seus alimentos graças ao uso de fertilizantes, e caso não consigam obter o insumo para alguns cultivos, essa produção pode cair 50%, comprometendo a oferta de alimentos para a população mundial.

O Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo, atrás da China, índia e Estados Unidos e o maior importador mundial desses insumos. A soja, cujo Brasil é o maior produtor mundial, é a principal cultura consumidora de fertilizantes. Somada com o milho, a cana de açúcar e o algodão, essas três culturas absorvem mais de 90% dos fertilizantes disponíveis a cada safra, segundo a EMBRAPA.

A boa notícia vem da Ministra da Agricultura Tereza Cristina, que anuncia que o Brasil tem opções para importar fertilizantes, citando como exemplo o Irá, Canadá e Marrocos. Entretanto, especialistas do setor avaliam que a situação não é tão simples e que a gravidade do cenário varia de insumo para insumo.

As mudanças climáticas e o crescimento das populações já vinham aumentando os desafios que o sistema global de produção de alimentos enfrentava, antes mesmo do início da pandemia e com a guerra o cenário se agrava ainda mais, o que deve ampliar o número de pessoas no mundo que convivem com a insegurança alimentar.

Essa insegurança alimentar, que já é realidade em alguns países pobres do continente africano, abrange desde a alimentação de má qualidade, passando pela instabilidade no acesso a alimentos, até a fome propriamente dita.




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Gustavo Ferreira Felisberto





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