Por João Carlos M. Madail — Conselheiro do CORECON RS e Diretor da ACP Pelotas
A importância do agronegócio tem se fortalecido a cada dia no Brasil,
pela suas capacidades de expansão da produção e da produtividade, além da
geração de oportunidades de empregos e renda para várias regiões. Ao longo
dos anos este setor da economia tem sido fundamental na formação de
diversas cadeias produtivas ou atividades agrícolas espalhadas por quase todo
o território nacional.
Quando se fala em agronegócio, entende-se como a soma
total das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das
operações na unidade de produção, do armazenamento, do processamento e
da distribuição dos produtos agrícolas.
A atividade agrícola está sujeita, não só
às forças da natureza, como a recente estiagem que assolou algumas das
regiões produtoras, mas as implicações da pandemia e da guerra entre a
Rússia e Ucrânia, dois países importantes na produção agrícola e no
fornecimento de nutrientes como, potássio e fósforo, ingredientes essenciais
para os fertilizantes utilizados no crescimento das plantações.
Outro fator
preocupante para o agronegócio é o choque de preços do petróleo, insumo
utilizado em grande escala do caminhão ao trator, em todo o processo
produtivo e distributivo, que não para de subir no mercado internacional. Se por
um lado o preço das commodities, em função da guerra, deverá aumentar no
mercado mundial, o custo de produção acompanhará este aumento, reduzindo
a margem do produtor.
Em 2020, a relação custo-produção praticado pelos
produtores sinalizavam a necessidade de produzir 20 sacas de milho para
pagar uma tonelada de ureia. Em 2021 foram necessárias 50 sacas para a
mesma quantidade do insumo, com a clara tendência de suba, em função,
também, da valorização cambial do dólar em relação ao real.
Isso significa que
antes mesmo da guerra na Ucrânia, o preço dos fertilizantes já estava em alta,
explicados pelo aumento da cotação do gás natural, principal insumo na
produção de fertilizantes nitrogenados.
O Brasil importa 85% dos fertilizantes
que utiliza na agricultura e a Rússia responde por 23% dessas importações, daí
a preocupação do governo, apoiado pelo setor produtivo, em se manter neutro
na posição política sobre a guerra.
Segundo a Yara Internacional, empresa
com sede na Noruega que opera em mais de 60 países e compra quantidades
consideráveis de matérias primas da Rússia, metade da população mundial
obtém seus alimentos graças ao uso de fertilizantes, e caso não consigam
obter o insumo para alguns cultivos, essa produção pode cair 50%,
comprometendo a oferta de alimentos para a população mundial.
O Brasil é o
quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo, atrás da China, índia e
Estados Unidos e o maior importador mundial desses insumos. A soja, cujo
Brasil é o maior produtor mundial, é a principal cultura consumidora de
fertilizantes. Somada com o milho, a cana de açúcar e o algodão, essas três
culturas absorvem mais de 90% dos fertilizantes disponíveis a cada safra,
segundo a EMBRAPA.
A boa notícia vem da Ministra da Agricultura Tereza
Cristina, que anuncia que o Brasil tem opções para importar fertilizantes,
citando como exemplo o Irá, Canadá e Marrocos. Entretanto, especialistas do
setor avaliam que a situação não é tão simples e que a gravidade do cenário
varia de insumo para insumo.
As mudanças climáticas e o crescimento das
populações já vinham aumentando os desafios que o sistema global de
produção de alimentos enfrentava, antes mesmo do início da pandemia e com
a guerra o cenário se agrava ainda mais, o que deve ampliar o número de
pessoas no mundo que convivem com a insegurança alimentar.
Essa
insegurança alimentar, que já é realidade em alguns países pobres do
continente africano, abrange desde a alimentação de má qualidade, passando
pela instabilidade no acesso a alimentos, até a fome propriamente dita.