Por João Carlos M. Madail — Conselheiro do CORECON RS e Diretor da ACP Pelotas
A Economia como Ciência Social, na sua essência, trata principalmente
das escolhas feitas pelas pessoas todos os dias. Os profissionais economistas,
nos seus estudos, dedicam especial atenção ao comportamento humano. Duas
constatações centrais guiam os estudos econômicos.
O primeiro é o fato de
que todas as pessoas têm desejos e eles são ilimitados. A segunda
constatação essencial é que os recursos disponíveis para satisfazer esses
desejos não são finitos.
Na pandemia ficaram evidentes que Economia e
Saúde não são ciências opostas, elas estão intimamente ligadas, pois, não há
economia sem saúde e não há saúde sem economia. No passado, a destacada
economista Joan Robinson declarou que o estudo da economia sempre foi uma
área importante, um veículo para a ideologia dominante da época, bem como,
em parte, um método de investigação científica.
O que ela quis dizer é que o
poder econômico influencia o debate econômico e que, de alguma forma, o
método de pesquisa e a evolução natural da sociedade recorrem a algumas
questões inevitáveis, mesmo que elas contrariem os interesses da classe
dominante que atua no momento.
Um exemplo prático que se deve atender,
independentemente da preferência teórica e política dos economistas ou da
orientação do governo para o qual o profissional serve, é de que a pobreza
deve ser combatida com amplo programa de transferência de renda.
Esta
questão foi praticada por governos de esquerda no passado, mas mesmo um
governo de extrema-direita como o atual se sensibilizou com a realidade atual,
adotando o Programa de Auxílio Emergencial contra a Covid e mudando de
opinião sobre o programa Bolsa Família que abre espaço para o agora carro chefe da agenda de política econômica em 2022.
Outra questão de interesse
da população a ser combatida, é a desigualdade, baseada em injustiças,
sobretudo no sistema tributário, no qual os indivíduos ricos pagam
relativamente menos impostos do que a classe média e os mais pobres. Esse
tema não é novo, mas persiste no tempo e até um governo de orientação
neoliberal como o atual tem se rendido ao fato de que é preciso tributar ainda
mais os mais ricos e menos os mais pobres.
A desigualdade prolifera também
em algumas castas do serviço público em relação aos salários absurdos do
Poder Judiciário e das Forças Armadas. Nesse caso urge a necessidade da
reforma administrativa, há muito discutido, mas sem avanços.
Outra questão
evidente é que o governo não tem um plano de desenvolvimento e se rende ao
orçamento paralelo de emendas parlamentares onde os políticos ocupam o
espaço de planejamento e coordenação deixado pelo Executivo, mostrando
que o país quer e precisa de mais investimentos em áreas estratégicas.
Outro
tema relevante que também interessa aos indivíduos de todas as classes é a
manutenção de empresas estatais desconectadas com os propósitos maiores
do governo. A sociedade está focada nos resultados da atividade da estatal e
não na forma que a atividade é feita e entregue a sociedade. Em muitos dos
setores estatais, as atividades são necessárias, mas nem sempre o serviço ou
produto é prestado da forma desejada e o preço não contempla o risco e a
rentabilidade do negócio.
Em muitos casos a atividade pode ser feita pelo
mercado, sob a regulação do governo. As privatizações têm ocorrido desde os
anos 1990, em todos os mandatos presidenciais e a cada etapa o debate se
acirra e parece confuso face os interesses pessoais e corporativos.
Enaltecendo a reflexão da economista Joan e adaptando para os tempos
atuais, acrescento que nós, Economistas, muitas vezes ficamos imersos em
nossas teorias e opiniões, sem ouvir adequadamente a voz do povo, ou seja,
sem prestar atenção no que a sociedade está dizendo ser prioridade, mesmo
que as mensagens venham carregadas de ruídos.
Cabe sempre lembrar o dito
popular: “A voz do povo é a voz de Deus”