Comer carne e arroz promove dano ambiental?

Comer carne e arroz promove dano ambiental?

Eduardo Allgayer, Engenheiro Agrônomo, analisa a recente polêmica da criação de gado e da produção de arroz como “vilões da preservação ambiental”. Seriam esses os fatores responsáveis pelo dano ambiental ao país?

27/04/2022 Fonte original

Foto: Daniel Quiceno/Unsplash

A polêmica recentemente posta em âmbito escolar local aponta a criação de gado e o cultivo do arroz como vilões da preservação ambiental. Como solução é apontada: comer menos carne e arroz, esquecendo talvez que o arroz é o principal alimento de mais de metade da população mundial, que padece fome.

No caso da pecuária, o alvo apontado são as emissões de gás metano (CH4) gerado no estômago dos ruminantes pela fermentação do pasto consumido. Esquecem os ambientalistas que a vaca não produz metano espontaneamente. Liberado pelo arroto da vaca (e não pelo “pum” como é erroneamente divulgado) o metano resulta da fermentação anaeróbica do pasto consumido. Para crescer o capim capta o CO2 do ar, num processo de reciclagem do carbono que, num sistema de manejo adequado resulta empatado em quantidade de carbono equivalente, como bem demonstra o Projeto Pecus conduzido por mais de 300 pesquisadores da Embrapa e de outras instituições em todos os biomas brasileiros, demonstrando que na criação animal bem conduzida o balanço de carbono equivalente pode inclusive ser positivo (mais oxigênio disperso no ar do que carbono retido na forma de metano), especialmente quando são adotados processos que integram lavoura-pecuária-florestas. Além disso, o metano tem uma vida útil relativamente curta quando comparada com a do CO2, que se mantém estável na atmosfera por séculos.

Cabe considerar que em toda a atividade antrópica algum impacto ambiental ocorre. O simples ato de respirarmos joga CO2 na atmosfera. Vamos parar de respirar para evitar poluir o ar?

Já a acusação de que a lavoura de arroz “gasta” milhares de litros de água para cada quilo de grão colhido é outra falácia. Qualquer planta, para crescer realiza fotossíntese, capturando CO2 do ar para, com a água absorvida pelas raízes produzir folhas, colmos, flores e grãos. Mas a água consumida nesse processo é infinitamente menor em quantidade. Quem tem um vaso com plantas em casa sabe que basta uma xicara de água por semana para mantê-la crescendo. O erro de quem divulga tais absurdos vem do cálculo simplista que fazem dividindo a quantidade total de água contida numa quadra de arroz pela quantidade de arroz aí colhido. Ora a água que entra numa lavoura irrigada circula no terreno e sai pelos canais de escoamento. Se nesse local não existisse uma lavoura, ela correria direto para os arroios, rios e lagos até chegar nos oceanos.

Produzir alimentos com sustentabilidade e respeito ao ambiente é imprescindível. Mas convém atentar que, pelo conceito universalmente consagrado, a sustentabilidade deve se apoiar em três pilares: o ambiental, o social e o econômico. Desconsiderar qualquer um desses fundamentos implica em grave erro a ser corrigido.

Autor: Eduardo Allgayer Osorio, Engº Agrônomo, Professor Titular da Faculdade de Agronomia da UFPel, aposentado.




Fonte: Eduardo Allgayer Osorio



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