O Brasil da hiperinflação: o país corre o risco de reviver esse período?

O Brasil da hiperinflação: o país corre o risco de reviver esse período?

Na primeira parte da série “Inflação: do neto ao avô”, conhecemos o que é a inflação, quais são suas causas e, especialmente, porque ouvimos tanto falar dessa palavra. Agora, você vai entender um fenômeno que afetou o país durante mais de 10 anos e, mesmo hoje, ainda atinge vários outros países, trata-se da hiperinflação.

17/03/2022

Foto: Niels Steeman/Unsplash

Em 2021, a inflação do Brasil acumulou uma alta de pouco mais de 10%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar de a alta estar longe da chamada “hiperinflação”, o Ministro da Economia, Paulo Guedes, está preocupado. Recentemente, o ministro comentou que a “inflação será um verdadeiro problema para todo o mundo”, durante o Fórum Econômico Mundial deste ano.

Será que essa preocupação tem relação com a hiperinflação? Confira a seguir mais um capítulo da série  “Inflação: do neto ao avô” e descubra.

Qual a diferença entre inflação e hiperinflação?

Agora que você já sabe o que é a inflação, tido como um aumento geral nos preços, é hora de conhecer mais uma palavra que já esteve “na boca do povo”. A hiperinflação, segundo o economista norte-americano Gregory Mankiw, são “episódios de inflação extraordinariamente alta”, em que a inflação fica acima de 50% dentro de um mês — na perspectiva técnica.

Então, se a inflação é alta generalizada de preço nos produtos que você consome no dia a dia, a hiperinflação pode ser resumida como uma “explosão” no preço dos produtos, serviços e, no geral, tudo que o dinheiro pode pagar.

Calma, está parecendo difícil imaginar? Pense em uma lata de refrigerante que hoje você pode comprar por R$3,00, se estivéssemos vivendo em um período de hiperinflação, no mínimo, você pagaria R$300 pela mesma lata de refrigerante após um ano. Nos anos 80, essa alta extraordinária havia se tornado comum na vida dos brasileiros.

O que causa a hiperinflação?

Assim como ocorre na alta da inflação, uma das causas mais comuns da hiperinflação é a emissão de papel-moeda. Quando o banco central emite moeda, os preços sobem, agora quando esse mesmo banco emite muito papel-moeda em pouco tempo, surge a hiperinflação, como comenta Mankiw em seu livro Princípios da Macroeconomia (2013).

Commodities, gastos altos e dívidas, todos esses fatores fizeram parte do processo de alta da inflação até a chegada hiperinflação no Brasil, especialmente a partir da década de 80. Como uma das causas da alta extraordinária da inflação no país, normalmente, recorresse à política fiscal dos governos do regime militar como uma peça chave, já que buscaram muito dinheiro no exterior para financiar seus governos.

Outros países também viveram a hiperinflação?

Para os brasileiros, se perguntados qual a pior inflação que já existiu, muito provavelmente, a resposta será “a inflação antes do Real”. Apesar de polêmico, Delfim Netto, superministro da economia durante o regime militar — período também conhecido como ditadura e responsável por centenas de mortes — e ex-bancário, explica que “a pior crise é sempre aquela que você está vivendo”, ou, como no caso brasileiro, viveu.

Assim como o Brasil, vários outros países também viveram a chamada “explosão da inflação”. Como explicamos na primeira parte desta série, nos anos 20 a Alemanha viveu o que Mankiw intitula de “um dos mais espetaculares exemplos de hiperinflação da história”, ainda que marcante para o seu povo, a Alemanha e Brasil não estão sozinhos na lista de descontrole monetário.

Na América Latina, a hiperinflação é um fenômeno relativamente comum, com muitos países da região tendo em sua história um período assim. Argentina, Peru, Bolívia e, mais recentemente, a Venezuela são alguns dos exemplos de países que também sofreram com uma alta muito acentuada no nível dos preços — e, todos, tiveram uma relação com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

O Brasil pode viver novamente um período de hiperinflação?

Talvez, você já possa ter ouvido pessoas afirmando quem sim. Segundo o Ministro da Economia, Paulo Guedes, “leva uns três anos para virar Argentina e uns cinco ou seis anos para virar Venezuela”, ao comentar sobre quanto tempo o Brasil poderia levar para chegar aos níveis inflacionários se não houvesse um “profundo controle fiscal”.

Do ponto de vista histórico, hoje, o Brasil não vive as mesmas condições que caracterizam o início da hiperinflação dos anos 80. Atualmente, a dívida pública brasileira tem sua maior parte vinculada com a moeda nacional, diferentemente da dívida Argentina que é altamente constituída em moeda estrangeira, tornando o país mais sensível às variações externas e dependente do FMI — que, em contrapartida, cobra medidas duras de controle fiscal.

Assim, segundo os órgãos oficiais, organizações independentes e consultorias, não há expectativa de que o Brasil possa viver novamente um período de hiperinflação, mesmo com uma alta acumulada de 10% no ano anterior, conforme divulgado pelo IBGE.


Gostando da série “Inflação: do neto ao avô”? Então não perca a nossa próxima matéria sobre o tema, explorando ainda mais esse termo tão falado pelos brasileiros.




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Gustavo Ferreira Felisberto





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